Chapter I - Fuga
O único som diferenciado dos ruídos da floresta ao anoitecer era o de seus passos. Rápidos, abafados e certeiros, deslizavam sobre as folhas que caíram ao chão durante o dia. Conforme o ritmo dos passos acompanhava a dança de seus cabelos ao vento, a jovem garota mexia furiosamente em uma pequena bolsa de alça única presa à sua cintura.
Fugia, mas ao olhar das corujas que retorciam os pescoços nos galhos mais baixos das altas árvores misturadas à paisagem, era indiferente. Mas seu olhar mantinha-se fixo a algo às suas costas, enquanto corria. E algo ou alguém definitivamente corria atrás dela. Uma criatura com aspecto horripilante, e tudo o que se lembrava dela eram os olhos impactantes e amarelos que a fitaram minutos atrás. Se não fosse pela rapidez de seus movimentos, o simples arranhão em sua perna direita seria um grande machucado provocado pelas unhas do monstro. Ela mal sentiu dor, não havia tempo para uma futilidade dessas quando sua vida estava em jogo.
Se era verdade que o cheiro de seu sangue atrairia mais criaturas como a que a seguia, não sabia, mas não deixaria que a dúvida fosse tirada. Rapidamente retirou a velha rolha que tampava um pequeno frasco cilíndrico que carregava, e que a muito custo encontrou. Antes que pudesse fazer qualquer coisa com o frasco, ouviu um grito estridente. Sabia que não devia parar de correr, mas mesmo assim ela parou. A criatura havia parado de persegui-la.
Atrás de uma árvore, a jovem conseguiu ver um homem carregando um grande arco nas mãos se aproximando do monstro, e foi nesse momento que o monstro abriu as asas num ímpeto furioso, e com uma flecha fincada no peito, gritou ainda mais alto do que anteriormente. Dessa vez, um grito ameaçador.
Não saberia explicar o que aconteceu em seguida, mas pelo pouco que podia enxergar agora, tendo a noite coberto os últimos resquícios cor de violeta no céu, a criatura foi envolvida por uma chama escura e disforme que saia de sua própria pele, até sumir.
Aproximou-se do homem que de certa forma a salvou e percebeu que na verdade ele não deveria ser muito mais velho que ela. Cabelos curtos, cuidadosamente vestido com seu uniforme de recruta da Guarda da Torre Norte, pelo que ela reconheceu, e olhos que transpareciam tranquilidade e confiança. Enquanto analisava o homem, esqueceu-se do corte, não estava doendo. Ela tampou o frasco e guardou-o dentro de sua bolsa.
O homem virou-se na direção da garota, ela se retraiu para se esconder.
- Eu sei que você está aí – disse - Estou aqui para sua proteção.
Ela surgiu lentamente do meio das folhas, com expressão assustada e brilhante de suor.
- Venha, não há mais perigo.
- Será que devo confiar em você? - perguntou, mas tinha quase certeza da resposta, fosse ele confiável ou não.
- Sim. Acredite, você deu muita sorte de eu estar por aqui. Esta criatura poderia ter facilmente te matado se conseguisse chegar a você. - respondeu.
Fez-se um breve silêncio. A garota pensava no que poderia ter lhe acontecido, e considerava alguma gratidão ao homem.
- Neste caso, obrigada. Posso saber seu nome?
- Brom Nightrich, muito prazer - disse com um ar nobre - e o seu?
- Vena – respondeu.
- Só Vena?
- É só o que sei.
- O que faz em um lugar tão perigoso à uma hora dessas? Não sabe que os arredores de Erfenia são repletos de monstros? Principalmente uma garota tão frágil como você. Venha comigo que eu te ajudo a voltar para sua casa.
- Eu não sou frágil! E muito menos sou de Erfenia! Vim da grande cidade de Súria.
- Então o que faz aqui?
- ... - hesitante a garota segurou o próprio cotovelo - minha cidade está arrasada. O pouco que me restava se foi.
- Entendo.. - A expressão do homem levemente tornou-se mais compreensiva, mesmo que sem grandes alterações em seu natural.
- Súria era grande e poderosa. Mantinha relações com todo o Reino da Kalmania. Mas depois daquele incidente - e sua voz hesitou - não saberia nem lhe dizer o caminho de volta para lá. Foi tudo destruído. A cidade hoje está praticamente em ruínas.
- Desde pequena, as ruas daquela cidade eram minha casa. Conhecia cada esquina da maior cidade de nosso continente, e agora, sou uma refugiada qualquer que mal sabe onde caminha.
- Eu posso te levar a Erfenia, não é longe daqui. E você precisa de abrigo, pelo menos para esta noite. - disse tocando o ombro da jovem Vena.
- Obrigada.
- Nunca ouviu sobre Erfenia? - disse iniciando a caminhada.
- Ah, apenas breves palavras de viajantes apressados que passavam por Súria. Mas se o caminho até essa tal cidade for longo, você pode me contar.
- Não é muito longe, creio que tenho tempo para isso.
Brom guardou o grande arco nas costas, de forma que ficasse preso ao lado da aljava que continha suas flechas.
- Erfenia é conhecida como A Cidade da Feitiçaria. Lá está a maior escola de Feiticeiros do continente. Mas não é uma grande cidade.
- Feiticeiros?
- Sim, nunca ouviu falar deles?
- Não, nunca frequentei escolas nem tive família que me ensinasse.
- Os feiticeiros são os membros de uma ordem especial de pessoas. Aqueles que apresentam disposição para aprender seus ensinamentos são bem vindos em suas escolas, mas não necessariamente dispõem de magia. Todos nós possuímos uma energia vital em nossos corpos. Os feiticeiros são aqueles capazes de transpor esta energia para uma forma diferente, conhecida como Magia. Sou apenas um arqueiro, não sei como se dá tal processo - e Brom fica um tanto constrangido - mas se você conhecesse um, acredito que ele poderia lhe explicar.
- Bom, aconteceu uma coisa, na verdade, em Súria. Talvez tenha a ver com feitiçaria. Antes da invasão... – mas antes que terminasse, Vena foi interrompida:
- Vartendur. É o líder daqueles que atacaram Súria. Ele era um dos alunos da Escola de Feitiçaria de Erfenia. Vartendur fundou Urbane, a cidade-sede da Legião dos Renegados, e desde sua criação, estão expandindo seus territórios rapidamente pelo continente.
- Vartendur? Acho que já ouvi este nome em algum lugar...
- Provavelmente o viu em cartazes de procurado, estão em toda parte. Antes da grande invasão de Súria, ele enviou dois de seus melhores servos, também grandes feiticeiros. Koda e Morgan são irmãos e ficaram conhecidos por terem se tornado também muito poderosos, apesar de não terem sido ensinados na Escola de Erfenia. Eles foram os responsáveis pela queda do grande muro da cidade de Súria.
E diante desta revelação, Vena arregalou os olhos e lembrou-se do grande muro. Impenetrável, é o que diziam.
- Koda e Morgan... Não, nunca ouvi falar. Agora, Vartendur... É verdade, tinham vários cartazes soltos por Súria. Muitos falam dele também, e da tal Legião dos Renegados.
Os dois aventureiros chegam, então, aos portões de Erfenia.
- Uau.. – disse Vena enquanto levantava a cabeça para admirar a dimensão da grande portaria - é enorme.
- Sim, são maiores que o muro de Súria, mas não tão resistentes quanto.
- Porque tão grandes?
- Porque nós, arqueiros, éramos inimigos dos feiticeiros há anos. Esse movimento de rivalidade foi iniciado por Vartendur, quando ele era o diretor da Escola de Feitiçaria.
Durante anos fomos rivais, tudo para que, quando ele fosse imperador do continente, houvesse guerras civis, evitando um contra-ataque. Vartendur sempre arquitetou dominar o continente.
- Então, esse tal Vartendur queria que o povo brigasse entre si para que não houvesse união contra ele?
- Exatamente, Vena. Agora, preciso lhe pedir um favor. - Disse, agarrando uma capa velha e amassada dentro de sua aljava de flechas. - Apesar de nossa rivalidade ter acabado, ainda existem aqueles mais radicais que mantém vivos os velhos hábitos. Preciso que, caso seja perguntada sobre minha origem, negue que sou arqueiro.
- Mas acha que isso é mesmo necessário? - Perguntou incrédula.
- Já arrumei problemas nesta cidade por causa disso. Apenas negue, caso seja perguntada. Se não, apenas ande. Seguirei atrás de você, e me passarei por seu servo. Sussurrarei as instruções quanto ao lugar que vamos. Ande como se soubesse aonde vai.
Brom Nightrich: Brom é o tio de Eragon, e sim, eu leio os livros. Nightrish eu tirei do mangá Trinity Blood, mostrado pelo meu amigo Rafael.
Erfenia: baseado em Geffenia, do Ragnarok.
Súria: tirei esse nome from hell
Vartendur: Vem de Farthen Dûr, a cidade de anões de Alagaësia. Mas ele não é anão nessa história. '--'
Adendos do Riick:
Vena: Derivado de Venator, que significa Caçador, em latim. [ Ou Venatrix, Caçadora ]
Koda e Morgan: À princípio deveriam ser Koda e Adok, mas devido à opinião alheia, foi mudado HIHEOAIHEOIAHE [ Concordo, era péssimo -__-' ]